ENTREVISTAS

Natação como uma experiência física e espiritual

Por Giovana de Paula Negrinho

Ainda em 1999, trabalhando em uma Revista Universitária, eu tive meu primeiro contato com o nome “Samir Barel”, quando nem eu e nem ele, imaginávamos o quão grande seria o mundo da natação para ambos. Era a cobertura dos Jogos Regionais realizados em Mococa (SP) e ele foi um dos personagens de uma matéria da página esportiva, que falava sobre natação. Samir, com 16 anos, havia conquistado a medalha de ouro nos 50 metros livres.
O mundo girou, braçadas e mais braçadas depois, eis que a natação me fez reencontrá-lo. Eu, agora, uma jornalista um pouco mais experiente e nadadora amadora e ele, um dos principais embaixadores da maratona aquática no Brasil. Para mim e para muitos nadadores, Samir Barel tornou-se uma grande referência na modalidade. Seu nome sempre ronda o topo dos pódios das principais maratonas aquáticas do Brasil e algumas das maiores travessias em águas abertas do mundo também foram concluídas por ele. Acompanhe à seguir, quais foram os fatores que influenciaram na construção dessa personalidade da natação brasileira

Você sempre faz questão de frisar que não existem super-atletas, mas sim, pessoas dedicadas, disciplinadas e com objetivos bem definidos. Como a natação tem te ajudado se encontrar com o melhor de você mesmo? 
A natação sempre fez parte da minha vida e desde que conheci a maratona aquática aprendi a transferir o que aprendo dentro da água para a vida fora da água. Por este motivo acredito que por meio do esporte podemos melhorar a visão e a vida das pessoas que estão a nossa volta! A natação é uma experiência física e espiritual que nos leva à felicidade plena, dentro e fora da água!  

Como é a sua busca pelo equilíbrio? 
Para mim a busca do equilíbrio está no momento que nado. É dentro da água que consigo organizar minha rotina, meus pensamentos e sentimentos. A água e a natação possuem o poder de me acalmar.

Como você busca o comportamento ideal para um atleta que pretende se dedicar às maratonas aquáticas? 
O começo de tudo é a humildade e o respeito pela natureza. O segundo passo é o atleta ter confiança no trabalho que está sendo realizado, controlando sua ansiedade, seus medos, receios e inseguranças, sentimentos normais que jamais sairão de nossa mente, porém altamente controláveis. Essa é a diferença entre as pessoas que ficam no mesmo lugar e as pessoas que dão um passo à frente, seja na água ou na vida fora dela!

Certa vez você disse que “Mais forte do que um objetivo, é um propósito. Sonho e objetivo, com o planejamento, são totalmente possíveis”.  Foi este planejamento que fez com que você, em 2015, superasse um dos mais difíceis e prestigiados desafios da maratona aquática mundial: o Canal da Mancha, entre a Inglaterra e a França? 
Este foi um dos desafios físicos mais difíceis que enfrentei, mas desde a primeira braçada eu sabia que todo treinamento dentro e fora da água tinha sido realizado corretamente, na época meu treinador foi o Igor de Souza, uma referência da maratona aquática como atleta e técnico. Além disso, sabia que aquele seria um momento crucial para mostrar às pessoas o meu propósito de que “Somos Todos Capazes” de vencer qualquer desafio, por mais difícil que pareça. Isso me fortaleceu em cada momento de dificuldade física e mental naquela travessia.

Qual é a sua ‘braçada perfeita’? 
Assim como na vida damos um passo por dia, na natação damos uma braçada por dia também, e ambos nunca acabam. A braçada perfeita é aquela que mostra que no mundo não estamos sozinhos, que ninguém passa despercebido pois alguém sempre estará olhando e nos usando como exemplo em algo que fazemos. A braçada perfeita é aquela que mostra e prova que “Somos Todos Capazes”.

 "A natação como fator agregador de físico, alma e conquistas”, por Samir Barel".

Apesar de parecer um esporte individual, a natação para mim sempre foi um meio de conhecer pessoas, unir famílias, compartilhar experiências (técnicas e de vida), ter oportunidades de trabalho, melhorar a saúde física e mental das pessoas, viajar o Brasil e o mundo e viver intensamente cada segundo de minha vida ao lado de pessoas que compartilham do mesmo gosto e dos mesmos valores. Enfim, natação é uma experiência física e espiritual que nos leva a felicidade plena dentro e fora da água!  

Perfil


- Nome completo: Samir Botelho Barel
Idade: 34 anos
Data e local de Nascimento: 09/07/1983, São José dos Campos – SP
Melhores marcas na carreira:  único brasileiro conquistador da Tríplice Coroa (Volta a Ilha de Manhattan - 45km (EUA), Canal da Catalina 33,5km (EUA) e Canal da Mancha 34km (Inglaterra até França); 10º colocado Grand Prix de Águas Abertas da FINA – Circuito Mundial de provas de longa distância (acima de 15km); Top10 nos 88km da Travessia Hernandarias-Paraná e nos 57km da Travessia Santa Fé-Coronda, ambas na Argentina;
Principal objetivo a ser alcançado:  Ajudar as pessoas à conquistarem seus objetivos dentro e fora da água, além de aprender com todos e ser um ser humano cada dia melhor para minha família e todos que estão a minha volta!
- O diferencial entre o esporte amador e o profissional: Acredito que ambos dependem um do outro. O profissional vive do esporte, serve como inspiração para todos nós, além de mostrar para o mundo a importância do esporte em nossas vidas. Já o amador sustenta e traz novos adeptos para as modalidades em geral, agregando valores e experiências que são compartilhadas entre amigos e familiares.
Uma lembrança marcante: O sorriso de satisfação de cada atleta ao chegar de uma prova ou um desafio!
Porque nadar é possível para todos: Porque se uma pessoa já fez, “TODOS” nós somos capazes de fazer ! 



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Conheça mais: Tales Cerdeira se prepara para a Rio 2016

Tales Cerdeira é um dos 33 nadadores confirmados na Rio 2016. O peitista, nascido em 21 de janeiro de 1987, conquistou sua vaga nos 200 m peito, na última seletiva olímpica, realizada em abril no Estádio Aquático Olímpico da Barra. 

Carioca e com mais de 500 medalhas no currículo, Tales começou a nadar ainda bebê, por recomendação médica. Quando foi morar em Santos, o menino percebeu que faria da natação a sua profissão. O atleta já passou por clubes como o Tijuca Tênis Clube, Esporte Clube Pinheiros e Flamengo, atualmente, ele representa a Unisanta. 

O nadador possui entre seus principais resultados internacionais as vitórias no Mundial Militar de 2010 (50m peito,100m peito, 200m peito e o revezamento 4x100m medley), a vitória nos Jogos Mundiais Militares de 2011 (venceu as provas de 200 m peito e o 4x100m medley, além da prata nos 100 m peito), o segundo lugar na Copa do Mundo de natação de 2010 nos 200 m peito (2min05s61), e o bronze nos 100 m peito (58s52).Tales também participou dos Jogos Pan Americanos de Guadalajara em 2011 (quinto lugar nos 200 m peito) e dos Jogos Olímpicos de Londres. 


Nos Jogos de Londres 2012, o atleta nadou a semifinal final olímpica dos 200 m peito em 2min09s77, terminando a prova na nona colocação, a uma posição da final olímpica. “Eu diria que fiz a prova perfeita, naquele momento. Eu vinha de uma lesão grave que me atrapalhou durante toda a preparação para Londres. Então, quase ter chegado a final da prova, foi realmente um resultado impressionante e que me deixou muito satisfeito”, comentou. 


O nadador, que não teve um ano tão bom em 2015, devido à mudança de técnico e de cidade, teve seu reencontro com as vitórias na segunda seletiva olímpica. 

No Troféu Maria Lenk 2016, ele completou as eliminatórias dos 200 m peito em 2min10s99, abaixo do índice olímpico, carimbando sua vaga para próxima edição dos Jogos. “Acredito que fiz o que precisava ser feito. Sabia que teria apenas uma chance para fazer o índice, por isso joguei todas as minhas fichas nas eliminatórias. Estava bem preparado fisicamente, mas existia uma preocupação em não conseguir corresponder na competição principal”, contou. 

A prova dos 200 metros peito tem evoluído em todo mundo, mas não no Brasil. Diferente de outras provas, como 50m livre, os 200m peito está longe de ter atletas brigando por vagas e por medalhas nos Jogos. Tales, entretanto, acredita em uma evolução maior, “tenho certeza que nos Jogos do Rio em agosto, colocaremos novamente o Brasil entre os grandes da prova”. 

Sua primeira experiência olímpica foi inesquecível, “representar o Brasil na maior competição do mundo é, realmente, emocionante”. Agora, em casa, Tales se prepara para seu melhor resultado. O atleta de 29 anos treina de segunda a sábado pela manhã, além de dobrar (dois treinos por dia) e fazer musculação durante três vezes na semana. “Tenho treinado e me dedicado muito, para alcançar um bom resultado”, ele ainda completa: “Acredito que a vibração da torcida brasileira vai ser o diferencial para o bom resultado dos atletas”. 

O nadador ainda deixa um clima misterioso no ar. Perguntado sobre o tempo que pretende fazer em agosto, o atleta responde que vai guardar para ele, pelo menos, por enquanto. As eliminatórias dos 200 metros peito, nas Olimpíadas, serão realizadas no dia 9 de agosto. 


#VaiBrasil #VaiTales #RumoAoRio #Swim 


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André Brasil se prepara para as Paralimpíadas do Rio


Daqui a menos de 226 dias acontecem os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro. Os primeiros Jogos da América do Sul contará com a participação de 4.350 atletas de 176 países e de 23 esportes diferentes. Na natação, uma das nossas maiores chances de medalha é André Brasil, atleta do Esporte Clube Pinheiros que tenta sua terceira Paralimpíada (já participou de Londres 2012 e Pequim 2008).

As sete vagas conquistadas no Mundial de Glasgow, ainda não têm nomes definidos, mas dificilmente André não será convocado. Com uma limitação motora na perna esquerda, começou a praticar a modalidade para minimizar as sequelas que posteriormente teria após a descoberta da Poliomielite (Paralisia Infantil). ​Ele é hoje detentor de nada mais nada menos do que 10 medalhas paralímpicas, 24 medalhas em mundiais, 21 medalhas Parapanamericanas e seis recordes mundiais.

O Medley-Just Swim conversou um pouco com André sobre sua rotina, metas, expectativas, preparação para os Jogos e muito mais.. Confira aqui!


Como está sendo sua preparação para os Jogos?
 André Brasil: A vaga conquistada no Mundial é para o país e não nominal. Acredito que as 7 vagas abertas no Mundial, dificilmente não serão dos atletas que as conquistaram, mas formalmente ainda não estou convocado. A preparação está de "vento em poupa"​. Muita trabalho, cuidar da: saúde, alimentação e descanso, para estar pronto pra mais uma vez se Deus quiser, defender o Brasil.

Qual é sua rotina de treinamento?
​ André Brasil: 
São em média 13 treinos na semana, sendo 10 na agua e 3 fora (musculação e pliomietria). Cada treino dura, mais ou menos, de 2 a 3 horas. De segunda a sábado. Há dias que tenho dois treinos. Então me sinto um trabalhador que como uma carga horária de 6 a 8 horas de trabalho, se entrega de corpo e alma!​

Qual atmosfera você espera encontrar nas Paralimpíadas do Rio?
​ André Brasil:Gostaria de ver "casa"​ cheia como em todos os Jogos que participei! E que assim como no futebol, a torcida seja a força a mais pra impulsionar os atletas!

Você já esteve em dois Jogos Paralímpicos. Como foram essas experiências pra você?

​ André Brasil: Cada Jogos teve sua particularidade. Em Pequim eu era estreante e em Londres foi a minha afirmação na classe S10. Foram Jogos Incríveis e os resultado Sensacionais. Darei o máximo para estar à altura desta grande festa aqui no Brasil​.

O que você espera dos Jogos Paralímpicos do Rio?

​André BrasilEspero uma grande festa! De integração dos povos. E que o mundo possa olhar diferente para as pessoas com deficiência. Dando uma verdadeira noção de cidadania. Espero que ter ou não uma deficiência não é impedimento de realizações. Se no nosso país, tais oportunidade fossem geradas, tenho certeza que as pessoas se surpreenderia com as coisas incríveis que são feitas! Mudança de um povo! Modificação cultural e respeito ao próximo acima de tudo!​

Você tem alguma prova principal? Está treinando para alguma prova mais forte do que para as outras?
​ André Brasil: 
Desde o Mundial decidi focar nas provas rápidas. O Problema é que acabo nadando quase todas! Difícil focar em apenas 1 ou 2 provas. Então nadarei: os 50 metros livre, 100 metros livre, 100 metros costas, 100 metros borboleta. Ainda não sei se nadarei os 200 metros Medley e os 400 metros livre, provas ao qual não venho treinando. Além dos 2 revezamentos: 4x100 metros livre e 4x100m medley.

Como você costuma se concentrar antes das provas?
​ André Brasil: Gosto muito de escutar música. Visualizar a prova antes, e deixar o extinto e o coração falarem na hora da prova! Acho que nós atletas treinamos tanto para um momento tão singular, que na hora de nadar é momento de se divertir com responsabilidade! ​

Como você classifica a divulgação dos esportes Paralímpicos hoje no Brasil? O espaço para os atletas está aumentando?
André Brasil: O esporte vem tomando grandes proporções em nosso país. Ainda sem o devido reconhecimento como o esporte Olímpico (o que dirá se compararmos ao futebol). Temos que mudar a conotação de "coitadinhos" para atletas com resultados, produtos com singularidade impar! Me pergunto quantas pessoas tem a realização de estar em uma Olimpíadas? O que dirá ganhar uma medalha?
Se pensarmos nisso​, podemos entender o quão grandioso é o Esporte Paralímpico! Com o Jogos no Brasil, teremos a oportunidade de mostrar a todos isso!

Comparado ao resto do mundo, como você avalia a natação paralímpica brasileira?

​ André Brasil: 
Preocupante. Existe a evolução e tudo mais, porém outros países tem investido em estrutura e renovação e assim se constrói um resultado! Nós por outro lado, temos pessoas com deficiência que são extremamente habilidosas no que fazem! Apesar de toda a linha crescente dos resultados obtidos nos últimos anos, não poderemos depender de resultados de poucos atletas e sim do grupo como um todo! Meu sonho é que no futuro tenhamos vários atletas com resultados como os meus ou os do Daniel, dividindo assim responsabilidades e glórias de outrora apenas um pequeno número de atletas.​

O que o esporte trouxe para sua vida?
​André Brasil: Transformação! Foi o esporte que me deu noções de disciplina, respeito e amizade. Assim pude aprender a ganhar e perder. E principalmente em lutar pelos meus sonhos! Além dos resultados que obtive e com esporte que tenho aprendido o quão gostoso é viver fazendo aquilo que ama, com dedicação!​

Quem são seus grandes ídolos?
André Brasil: 
Meus ídolos na vida são meus pais. No esporte: Alexander Popov, Gustavo Borges, Fernando Scherer (Xuxa) e Clodoaldo Silva. E Ayrton Senna como ídolo maior!

Você inspira muitos jovens com suas provas e conquistas. Afinal de contas, o que é preciso para ser um vencedor?
​ André Brasil:
 Acreditar que é possível é o primeiro passo, correr atrás do sonho com empenho e dedicação. E acima de tudo ser feliz! Faça coisas impossíveis, se permita a entender que o limite esta dentro de você e assim entenderá que é possível chegar a lugares inimagináveis! Eu quero, eu posso, e eu vou conseguir! Três sentenças que aprendi com meus pais! Então ao acordar, peço saúde, para que possa correr atrás dos meus ideais! ​
A natação paralímpica possui um total de 28 categorias, as chamadas classes. Iniciadas pela letra “S” de Swimming, elas são separadas da seguinte forma: de 1 a 10 são limitações físico-motoras, de 11 a 13 são deficientes visuais e a classe 14 são de deficientes intelectuais. André Brasil compete as provas unificadas nas classes S10, SB9 e SM10.

As competições da natação no Rio 2016 acontecem no dia 8 e vão até o dia 17 de setembro, no Parque Aquático da Barra.


Foto: Divulgação/ ECP 

Por: Katarine Monteiro

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Fernando Soraggi: A trajetória de um técnico campeão

  O ano era 1963, recém-chegado de Formiga (MG), Fernando Soraggi vinha para o Estado de São Paulo, mais precisamente para Mogi das Cruzes, com a ideia de estudar química. Na sua cabeça a natação ainda estava "fresca" e as memórias de campeão mineiro também. Porém, mal sabia ele, que seu destino iria fazer com que voltasse a brilhar nas piscinas, agora como técnico.

  Depois de formado e trabalhando como chefe de laboratório, aos 23 anos, ele perdera a noiva em um trágico acidente. Diante disso, decidiu se dedicar a sua paixão antiga e cursar na cidade de Santos, a graduação de Educação Física. Ao mesmo tempo em que fazia a graduação na Universidade Metropolitana de Santos (o curso, no Estado de São Paulo, só era encontrado em Santos ou em Santo André meio período, pois a USP e São Carlos eram em período integral) ele começava a dar seus primeiros treinamentos no Clube Náutico Mogiano (durante dois anos, ele não cobrou nada pelas suas aulas). Ele treinou a equipe vitoriosa do Clube Náutico por 19 anos entre 1963 e 1982.

  Sobre a época vitoriosa da natação de Mogi, Fernando lembra que a equipe foi pentacampeã dos Jogos Abertos, desbancando a potência da época, que era Santos. Além disso, a natação mogiana foi tetracampeã paulista.

  Soraggi tem muito amor pela cidade de Mogi, na época dos Jogos Abertos foi chamado por clubes como Corinthians, Flamengo e chegou a ficar dois meses no Minas, mas retornou à cidade que o consagrou.Com os melhores atletas da modalidade na época, Fernando passou a ser reconhecido e a treinar a Seleção Brasileira de Natação.

  Foram 12 anos à frente da Seleção, que fizeram com que o técnico conhecesse muitos lugares e ganhasse, cada vez mais, experiência. Ao todo, foram 14 sul-americanos, dois pan-americanos e dois Mundiais e duas Universiades ( Moscou e Sófia ) comandando nadadores de alto nível. Perguntado sobre a competição mais marcante, Fernando explicou que são várias no currículo, mas algumas como o Campeonato Mundial de 1973, na Iugoslávia, vão ficar marcadas. “Ver a grande potencia da época, e até hoje, os Estados Unidos perderem pela primeira vez para a Alemanha Oriental, foi surpreendente. Vi também as vitórias da jovem Kornelia Ender e Rolan Matthews ambos considerados os melhores do mundo na época, recordistas mundiais da Alemanha oriental. Para coroar, a Seleção ficou no mesmo hotel do que os alemães”.

  Outra competição marcante para o treinador foi o Mundial Universitário na década de 1970, em que os participantes do 4x100m livre conquistaram a medalha de bronze. “Dentre os quatro participantes, três eram meus atletas, foi muito emocionante”.

  Ser um técnico de natação requer fôlego, literalmente. A rotina é cansativa e a dedicação à natação deve ser de 100%. “Eu tenho saudade, mas é muito cansativo. Você não tem final de semana, vira psicólogo e amigo, além de professor”, comenta.

  Depois de deixar o Náutico em 1982, ele foi até Suzano e reorganizou a natação da cidade, começando pela piscina. Logo após isso, voltou para Mogi ao assumir o cargo de Secretário de Esportes e Lazer da cidade, em que ficou por quase quatro anos. “Se fosse pra ser Secretário de novo eu pensaria melhor, a política hoje está mais complicada do que se imagina, a partir do momento que melhorar a política no Brasil, tudo melhora.”, falou.

  Sobre a natação brasileira competitiva hoje no Brasil, o ex- técnico da Seleção Brasileira diz que falta estrutura e uma organização maior por parte do governo. “O Brasil tem muito talento, o que falta é a infraestrutura. Por ser um esporte de base, o governo e os pais devem incentivar a qualidade de cada um. Nos países de primeiro mundo elas (modalidades de base) fazem parte da formação e da cultura e isso interfere na formação da pessoa. Qualquer jovem que faça esporte hoje é diferenciado”, analisa. 

  Em relação à modalidade no passado, Fernando diz: “Hoje melhorou muito. Melhorou bastante, mas eu acho que embaixo ainda falta muita coisa. Nos EUA, por exemplo, toda escola tem uma quadra, uma piscina, e a família participa e incentiva isso. Isso vem da escola.” 

  Soraggi tem dois filhos. Sua filha Ana Gabriela seguiu o caminho do pai e é hoje técnica de natação nos Estados Unidos. Conhecida como “Coach Gabby” ela foi a primeira brasileira Head Coach de uma Universidade americana. E o filho, também com o seu nome, trabalha na área do turismo internacional e é o seu melhor amigo.

  Com duas netas e mais uma por vir, ele tem planos para morar nos Estados Unidos. “Eu estou pensando na ideia de ir morar lá. Às vezes morar aqui desanima”, contou. Segundo ele, “Temos que pensar de baixo pra cima, o governo dá um incentivo aos grupos elitizados, para as confederações e para as federações; mas os grandes celeiros são os clubes”, disse.

  Sobre a atual organização da natação brasileira, Soraggi diz: “Já alguns anos, devemos destacar o trabalho organizado e bem planejado pelo presidente da confederação brasileira de natação Coaracy Nunes Filho e o coordenador técnico Professor Ricardo Moura, incansáveis em todo esse sucesso de grandes resultados que a natação brasileira tem obtido nos grandes eventos internacionais; esperamos que continue assim”.

  Fã de música e de bem com a vida, Fernando Soraggi continua em contato com alguns ex- atletas, eles sempre se reencontram para colocar as histórias em dia e relembrar os momentos de glória. 

  Pelos tantos anos de empenho pela natação, ele já foi homenageado pela Liga Aquática do Alto Tietê, com o chamado “Troféu Fernando Soraggi de Natação” e pelo 9º Encontro Nacional de Técnicos de Natação. Os eventos reverenciaram todo amor e paixão que ele tem pelo esporte, o deixando muito emocionado. “Ser homenageado em vida é algo diferente, eu fiquei muito feliz”, explicou.

  Aos maiores admiradores do esporte, e principalmente da natação, Fernando Soraggi é a prova viva de que a dedicação é a palavra chave, não só para a modalidade, mas para a vida. O passado deve ser lembrado, reverenciado e difundido. Ao futuro, resta compartilhar as histórias, relembrando e principalmente aprendendo com elas. “A natação sempre esteve presente na minha vida” e tenha certeza Fernando, sua vida tornou a natação brasileira mais presente, mais vitoriosa e mais significante na vida de muitos outros.


“Se não puder fazer tudo, faça tudo que puder.”

Por: Katarine Monteiro

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Conheça mais: Larissa Monteiro


Larissa Monteiro Santos nada desde os oito anos de idade, quando viu, nada mais nada menos, do que César Cielo nadando na televisão. Ao convencer sua mãe a fazer aulas de natação, ela começava ali sua trajetória dentro das piscinas, que está muito longe de terminar. 

Larissa é uma nadadora bem versátil, nada um pouco de tudo, desde provas de 50 metros, provas de medley até provas mais longas. Provando sua versatilidade, recentemente foi medalhista de bronze na prova dos 1.500 metros no Campeonato Paulista Júnior e Sênior de Verão, realizada na piscina do Unisanta. 

Nosso medalhista Olímpico, César Cielo, sempre foi a maior inspiração para Larissa, mas atletas como Matheus Santana, Etiene Medeiros, Daynara de Paula e Poliana Okimoto também servem como espelho para a nadadora, que cursa Educação Física na Universidade de Mogi das Cruzes. 

Nadadora federada, Larissa já nadou competições como o Paulista e o Brasileiro, e como toda atleta espera evoluir a cada dia. Ela possui algumas competições marcantes ao longo de sua vida, uma das mais lembrada por ela é o Campeonato Paulista do final do ano. “Foi a minha primeira medalha de Paulista, então ela é a principal pra mim”. 

Alguns esportistas preferem esquecer a derrota e pensar apenas nas vitórias mais marcantes, já Larissa, prefere ficar com as derrotas na memória para nunca mais cometer os mesmos erros, “Acho que toda derrota é válida para a evolução. Foi na base do erro que evolui, então por pior que seja eu não gostaria de esquecer nenhuma”, falou. 

Ela nadou seu primeiro Finkel este ano com a equipe do 4x200m livre do Esperia. As meninas foram o mais novo revezamento a nadar o Campeonato, que contou com as estrelas da seleção brasileira de natação, “Meu primeiro Finkel ...eu sabia que ia apanhar, óbvio, fomos o rev mais novo de idade no campeonato , não é nada fácil olhar para o lado e ver nadadoras olímpicas. Eu amei ! Foi uma experiência nunca vivida que nunca vou me esquecer “, contou. 

Larissa faz parte de uma nova geração de atletas da natação brasileira, que é marcada por muita alegria e por bons resultados. Segundo Larissa, para essa geração continuar brilhando é preciso garra e atletas com vontade vencer: “Para continuarmos nesse cainho é preciso ter uma grande estrutura em volta do atleta e um atleta disposto a treinar duramente todos os dias sem dó”. Treinando na Academia Qualivida em Mogi das Cruzes e representante do Clube Esperia de São Paulo, Larissa ama o que faz e treina de segunda à sexta-feira das 14:00 até as 17:00. Ela também tem treino um sábado sim e o outro não, no período da manhã. 

Quando não está nadando, a atleta costuma andar de Longboard e como toda adolescente, adora escutar músicas. Seu principal objetivo é nunca parar de tentar vencer e se dedicar à natação o máximo que puder. 

Sobre o que a natação trouxe para sua vida pessoal, Larissa tenta, mas é quase impossível dizer com palavras seu sentimento: “A natação trouxe tudo o que sou hoje, amigos, disciplina, responsabilidade, humildade, companheirismo. A natação é minha vida ..eu não consigo explicar, ela é tudo o que eu sou e tudo o que eu tenho, acho q vai além de amar”, disse. 

Larissa tem sonhos e pretende a todo custo vencê-los. Com persistência, foco e dedicação os sonho podem ficar cada vez mais próximos e um dia poderão se tornar realidade. Estamos na torcida! 

"Acredite em você mesmo e poderá alcançar alturas verdadeiramente surpreendentes." 

Obrigada e boa sorte, Larissa!



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Brandonn Pierry: Campeão Mundial Júnior define suas próximas metas


Na edição de número 123 da Revista ANAPP (Associação Nacional dos Fabricantes de Piscina) uma entrevista com Brandonn Pierry de Almeida apresenta a rotina, a história e as metas do jovem nadador para a comunidade aquática e para quem ainda não conhecia o Campeão Mundial Júnior dos 1.500 metros livre.

Confira a entrevista aqui:

NASCE UM CAMPEÃO

Por Katarine Monteiro

Campeão brasileiro, campeão Pan-Americano e agora Campeão Mundial Júnior. Estamos falando de Brandonn Pierry de Almeida uma de nossas maiores chances de medalhas na natação nos próximos campeonatos mundiais e nas próximas Olimpíadas.

Nadador do Corinthians (único clube que defendeu até hoje), o atleta de 18 anos conquistou em agosto o título de Campeão Mundial Júnior na prova dos 1.500 metros livres (15min15seg88), medalha inédita para a natação de fundo brasileira (provas mais longas). Mundial Júnior, que aconteceu em Singapura, foi o segundo do paulista, que é hoje o recordista e campeão brasileiro da prova.

Brandonn foi campeão absoluto pela primeira vez em setembro de 2014 no Troféu José Finkel e campeão brasileiro em abril deste ano no Troféu Maria Lenk. Desde então, sua evolução na piscina não para de crescer.

Especialista nos 1.500, 800 metros livre e 400m medley, foi também campeão Pan-Americano em julho deste ano, na sua primeira participação na competição. O ouro veio na prova dos 400m medley, em que quebrou o recorde mundial júnior da prova, vencendo o favorito Thiago Pereira, que foi desclassificado. Nos 1.500m livre ficou com a medalha de bronze e quebrou o recorde brasileiro da prova, com o tempo de 15min11seg70.

O nadador conversou com a ANAPP e contou um pouco de sua história, rotina, e planos para o futuro.

Com quantos anos você começou a nadar?

Comecei a nadar com 3 anos.

Você sempre foi nadador de fundo?

Sim, sempre nadei fundo e medley.Mas a minha prova principal são os 400 medley até no ranking mundial: essa é a prova em que eu estou melhor colocado.

Você já está ansioso para as Olimpíadas do Rio, ou prefere pensar em cada competição por vez?

Eu prefiro pensar passo a passo, primeiro eu quero fazer o tempo para estar lá e depois se Deus quiser eu fico ansioso.

Você tinha o índice para o Mundial de Kazan, por que optou por ir ao Mundial Júnior de Singapura?

Pela proximidade das competições, o mundial de Kazan e o Mundial Júnior ficariam muito próximos um do outro.

Na prova dos 1.500 no Mundial de Singapura, você nadou a segunda metade da prova melhor do que a primeira. O que isso pode significar em termos de eficiência do seu nado?

Essa é a minha estratégia de prova desde pequeno essa é a minha divisão nos 1500, mas esse é um ponto que eu tenho capacidade de melhorar.

Qual é sua expectativa para os próximos anos, em especial para o ano que vem?
Primeiro eu tenho que continuar no foco, treinando forte, me dedicando e continuar fazendo bons resultados para se Deus quiser eu estar nas Olimpíadas, que é o objetivo principal de qualquer nadador para o próximo ano.

Você faz parte de uma nova geração de representantes da natação brasileira. Pelo o que é marcada essa nova geração?

Acho que de união. Essa geração mais nova por ter pegado muitas seleções juntas, nós estamos sempre entrosados, nos conhecemos uns aos outros muito bem e estamos sempre tentando incentivar e passar energia entre nós.

Quem são seus ídolos?

Meus ídolos no esporte são o Ayrton Senna, que infelizmente não pude acompanhá-lo. E meu outro ídolo é o Michael Phelps, que dispensa comentários.

Você vai focar em alguma prova, como preparação para o Open?


Eu ainda não sentei para conversar com o meu técnico, mas provavelmente minha preparação será visando os 400 medley.

Quanto você treina por dia? Qual é sua rotina?


Meus treinos giram em torno de 5 a 7 mil pela manhã e 3 a 4 mil a tarde. São nove treinos semanais com três dias da semana com preparação fora da água e dois dias de treino funcional.

Como nadador de fundo, você já experimentou provas mais longas? Como as de maratona aquática?

Sim eu já experimentei maratona aquática, mas eu prefiro a piscina mesmo.Esse negócio de contato físico não é para mim não .

E o tempo? Você espera nadar pra quanto nas próximas competições ? 14’ é sua meta?

Acho que essa barreira é um sonho para qualquer nadador fundista quando você abaixa da barreira dos 15 minutos você entra em outro patamar. É uma meta para mim só que eu continuarei com meu foco para os 400 medley.

Qual é seu principal objetivo a curto prazo? E a longo? 

A curto prazo é a nossa primeira seletiva olímpica que é em dezembro. E, longo prazo. é ser um nadador renomado que conseguiu fazer história para o Brasil como o Gustavo Borges, Ricardo Prado, Cesar Cielo entre outros.


Entrevista retirada da Revista ANAPP


Confira a edição na íntegra da revista, no Link: http://www.anapp.org.br/revistas/edicao-123/

Foto: Satiro Sodré/SSPress


Comentários

  1. Muito boa entrevista, Katarine! Parabéns! O Brandonn tem potencial para ser um grande nome da natação brasileira e quebrar o estigma que nos acompanha a alguns anos de que no Brasil só há bons velocistas. Torço muito por ele, que parece ser um cara muito centrado e simples e além de tudo, Corinthiano!!!! :-) Rodrigo

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